Uma pílula sobre job share
Modelo de contratação permite compartilhamento de heacount
Semana passada lançamos um programa que eu criei na unico, chamado Mães na Engenharia. O programa é uma ação afirmativa focada em mães que trabalham na área de engenharia, oferecendo a elas a possibilidade de trabalhar 60% da carga horária normal (com salário proporcional, mais benefícios).
Esse programa foi baseado no conceito de job share, que é muito conhecido nos Estados Unidos, porém talvez nem tanto no Brasil.
Job share ou trabalho compartilhado funciona a partir da premissa de que duas pessoas vão compartilhar um cargo, cada uma delas trabalhando em tempo parcial.
No caso do Mães na Engenharia, usamos 60% como carga horária para o programa, e a idéia é contratar duas pessoas para cobrir uma posição (também conhecida como headcount). Com isso, de fato temos 120% da vaga preenchida, porque consideramos o custo de overlap como custo que estamos felizes em cobrir.
Como eu falei o salário é proporcional, porém os benefícios obviamente nem todos são. Plano de saúde é integral, e alguns outros que não faz sentido reduzir. Aqui é onde mora o espaço para a criatividade, porém precisamos ter cuidado para não criar benefícios exclusivos para o programa, porque pode criar um problema de senso de justiça (e litígio). Se a tua empresa tem benefícios atraentes para mães e pais, esse problema é resolvido por design.
O mais difícil não é contratar nesse modelo, e sim, adaptar todos os processos. Por isso, eu decidi fazer um experimento com poucas pessoas e assim conseguirmos avaliar como essa dinâmica vai se dar no dia a dia.
Eu espero que as duas pessoas compartilhando um cargo tenham horas de overlap para passar contexto, e assim evitar o “60% de salário mas 100% de trabalho”, que eu admito que é um risco. Também para mitigar esse risco nós abrimos vagas, inicialmente, somente para profissionais com experiência.
O sucesso no número de aplicações fala por si só. Em menos de 1 semana mais de 100 mulheres (e alguns homens) aplicaram para o programa. Eu não poderia estar mais feliz. Possibilitar as mulheres uma jornada de trabalho que caiba na sua vida pessoal é muito importante pra mim.
Alguns CTOs de outras empresas já me contataram para falar que eles também vão criar programas semelhantes. Eu estou empolgada. Parece que é o começo de um movimento que vai ser muito benéfico não só para as mães participantes, mas também o mercado de tecnologia do Brasil que perde com a perda desses talentos.